O Futuro é a Liberdade

Discussões sobre Software Livre e Sociedade

Liberdade? Para quê?

Posted by Paulo em 26/08/2009

Quando se fala de software livre, hardware livre e outras “coisas livres” que vemos internet afora, fico pensando no que consistiria, exatamente, essa tão falada “liberdade”. Se entrarmos em algum fórum relacionado ao GNU/Linux, ou outros relacionados ao software livre (SL), com frequência, encontraremos as definições de liberdade descritas no site da Fundação para o Software Livre – Free Software Foundation (www.fsf.org), e traduzido livremente como “liberdade para usar, estudar, modificar, copiar e distribuir” um determinado software.

Confesso que, às vezes, tenho dificuldade de compreender, nos detalhes, o que isso significaria para, por exemplo, meu pai, que não entende nada de programação e mal sabe navegar na internet e conversar no MSN, numa cidadezinha no interior do Paraná. Meu pai não tem interesse em estudar, modificar ou distribuir nenhum software. Usar, com certeza, talvez copiar uma coisa ou outra. O que significaria essa “liberdade” para um usuário de computador, longe de ser um “nerd” ou “micreiro”?

Um bom começo seria pesquisar o que a filosofia nos diz sobre o assunto. No entanto, não pretendo aprofundar nisso, limitando-me apenas a sugerir a leitura dos autores relacionados nesta página.

Eu, particularmente, gosto de uma definição adotada por Montesquieu: “A liberdade consiste em fazer tudo o que se deve querer e em jamais ser coagido a fazer o que não se deve querer”. De onde se conclui que, deve-se ter conhecimento e discernimento para saber o que se deve querer, e também para saber quando se está sendo coagido a fazer o que não se deve.

Embora pareça que eu esteja complicando muito a questão, o ponto é simples: não há liberdade sem conhecimento. Conhecimento vem da educação e da experiência. Se uma pessoa não possui o conhecimento necessário para decidir entre um software livre e um proprietário, será levada pelas circunstâncias e pela corrente de opiniões mais popular, pensando, equivocadamente, que está fazendo o quer, embora esteja fazendo o que certos departamentos de marketing de algumas empresas querem. É a famosa “a voz do povo é a voz de deus”.

Por que meu pai deveria escolher um software livre, ao invés de um proprietário (pirata ou não), se essa questão não faz parte do seu leque de conhecimentos? A comodidade se traveste de liberdade e o leva a uma escravidão velada. Aí diz-se que ele, livremente, escolheu o que melhor atendia às suas necessidades. No entanto, ele nem sabe dizer, com alguma exatidão, quais são as suas necessidades, uma vez que a tecnologia de computadores não surgiu para ele como uma necessidade, mas foi empurrada pela sociedade e pelas circunstâncias, gerando nele a falsa sensação de que ele “necessita” de um computador, de um software, de internet banda larga, etc. Isso é conhecido no marketing como “geração de demanda”, ou, “como fazer com que as pessoas pensem que precisam dos nossos produtos”.

Em tempos onde um senhor de idade, nos confins do interior do Brasil, sem conhecimento de informática pode, de uma hora para outra, tornar-se um criminoso da pior espécie, só porque baixou um joguinho ou um programa qualquer que precisava pra fazer alguma coisa, é bom colocarmos as barbas de molho. Neste caso, a “liberdade” começa a tornar-se mais clara e ter algum sentido. Meu pai poderia, por exemplo, utilizar e copiar qualquer programa livre, sem o risco de ser processado por pirataria e ser obrigado a pagar milhões de dólares como esta senhora. Ele também poderia escolher entre dezenas, talvez centenas, de versões do mesmo software, cada uma para uma necessidade diferente, como se escolhesse uma marca de arroz no supermercado, como acontece hoje com as distribuições do GNU/Linux, ou com certos programas. Ele também poderia ter mais segurança quando fosse utilizar esses programas já que, como o código é aberto, ele pode ser auditado por qualquer pessoa que tenha conhecimento de programação. Dessa maneira, pode-se verificar não só as funcionalidades e erros, mas também as intensões do programador que o desenvolveu. Softwares maliciosos não teriam vez porque não fariam parte da lista de programas reconhecidamente isentos pelas comunidades SL do mundo.

Atualmente, milhões de pessoas utilizam software proprietário, a maioria pirata, porque, segundo elas, elas escolheram assim. A realidade, no entanto, é que:

1 – A necessidade de se possuir um computador e vários softwares para fazê-lo funcionar não é delas, mas foi interiorizada nelas por grandes corporações.

2 – É inegável a contribuição que a informática e a internet trouxeram para a humanidade, no entanto, o controle delas pelas grandes corporações tem um único objetivo: lucros a qualquer custo (desde que o custo seja dos outros).

3 – Essas milhões de pessoas não escolheram. Elas foram escolhidas pelas grandes corporações de informática. Muito poucas pessoas podem dizer com sinceridade: “eu escolhi usar o Microsoft Windows Vista porque fiz uma avaliação das minhas necessidades e das funcionalidades que cada Sistema Operacional para computadores pode oferecer atualmente, e cheguei à conclusão de que este sistema é o melhor para mim”. Na imensa maioria dos casos, as pessoas escolhem porque é “pratico”, “fácil de usar” e “não exige muito conhecimento”.

Curiosamente, a “liberdade” que as pessoas sentem ao utilizarem esse tipo de software é bastante duvidosa, entretanto, ninguém se dá conta disso. Por que duvidosa? Bem, vejamos:

O MsWindows além de ser extremamente difundido em função de quase duas décadas de domínio do mercado, nele, qualquer pessoa, mais ou menos familiarizada, consegue resolver os problemas mais básicos. No entanto isso só acontece porque o sistema é permissivo ao extremo. Tão permissivo que não se preocupa em ensinar seu usuário. O sistema foi desenvolvido para fazer o que o dono quer, sem questionamentos, nem alertas se alguma solicitação dele levar a potenciais riscos.

Além disso, a Microsoft tem uma prática de “viciar” o usuário do seu sistema operacional. Isso significa que a empresa não tem a menor preocupação com a pirataria do seu software, desde que isso a mantenha na hegemonia do mercado de software. Na prática, ela faz vista grossa à pirataria mas, ao mesmo tempo, deixa os usuários das cópias piratas sem as principais atualizações de segurança. E no que isso afeta a liberdade do meu pai, no interior do Paraná? Meu pai vive formatando sua máquina. Reclama que é lenta, dá problemas toda hora e ele passa mais tempo tentando consertar coisas do que fazendo o que deveria: peças de artesanato no tear de mão que ele faz para ganhar um “troquinho” extra. Ele fica à mercê de pragas que se disseminam pela internet afora porque não tem a menor consideração da Microsoft, já que usa Windows piratão. Ele tem sua privacidade violada sem saber, porque não tem o conhecimento necessário para se defender das pragas (como a grande maioria das pessoas), e pior, nem sabe que está sendo vítima dessas pragas. Ele tem seu computador sequestrado por essas mesmas pragas, que se torna um “zumbi” para a efetivação de atos criminosos por terceiros. Enfim, ele é uma vítima porque é “ensinado” a usar o Windows, mas não tem acesso a conhecimentos e ferramentas que permitam com que ele esteja seguro no ambiente perigoso que é a internet. Por fim, ele perde dinheiro e tempo precioso para consertar os estragos que as instabilidades e as falhas de segurança do software proprietário da Microsoft. Ele e os vários milhões que estão na mesma situação dele.

Mas não saí do vício porque “aprendeu” assim. Ou foi “ensinado” assim.

O software livre tem o desafio de quebrar esse paradigma. É por isso que a “liberdade” oferecida por ele é mais substancial, embora difícil de ser reconhecida. É difícil porque a comodidade que as pessoas têm hoje com os softwares piratas proprietários coloca uma cortina de fumaça sobre os efeitos colaterais dessa “livre escolha”. É como tomar remédio falsificado só porque é mais barato e tem uma caixa igual ao original, achando que vai curar sua doença e não vai ter efeitos adversos: é loucura! Você tomaria? Então pense nisso quando “escolher” utilizar um software proprietário pirata.

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Uma resposta to “Liberdade? Para quê?”

  1. […] Liberdade para o que? […]

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